Cem anos atrás, a fotografia envolvia câmeras de madeira, tripés e chapas de vidro. Então surgiu a Leica 1(A), que reutilizou negativos de filme de 35mm originalmente usados no cinema, criando uma câmera portátil, leve e que permitia tirar mais de uma foto sem precisar trocar o filme. Ela foi descartada como um brinquedo.
“Os fotógrafos profissionais não confiavam nela”, diz Stefan Daniel, vice-presidente executivo de tecnologia e operações da Leica, na sede da empresa na cidade de Wetzlar, perto de Frankfurt, na Alemanha. “É a reação típica quando algo revolucionário surge. Mas isso tornou a fotografia muito mais móvel, muito mais ágil do que antes.”
Os primeiros adeptos — incluindo fotógrafos de rua, exploradores e membros do movimento Bauhaus — confiaram na novidade, percebendo seu potencial após o lançamento na Feira de Primavera de Leipzig, em 1925.
O nome 1(A) foi profético: a câmera criou uma mudança de paradigma que levou a fotografia de uma prática rígida e restrita a estúdios para uma forma de arte versátil e espontânea, abrindo novas possibilidades tanto para entusiastas quanto para profissionais.
Enquanto a Leica se prepara para um ano de celebrações de seu centenário, não lhe faltam defensores de peso. Elvis Presley, Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick e Miles Davis eram fãs da marca, assim como Brad Pitt, Daniel Craig e Lenny Kravitz atualmente.
Os fotógrafos profissionais também acabaram aderindo — Henri Cartier-Bresson tornou-se sinônimo de sua Leica 35mm (equipada com uma lente de 50mm), e a partir daí a lista de admiradores só cresceu, incluindo Robert Capa, William Eggleston, Vivian Maier e Robert Frank, até chegar a Joel Meyerowitz, Annie Leibovitz e Greg Williams nos dias de hoje.
A marca Leica perdurou em parte porque soube acompanhar os tempos. Lançou sua primeira câmera mirrorless (silenciosa), a Leica SL, em 2015. Em 2016, veio a Leica Sofort, uma câmera instantânea. Já em 2019, foi a vez da Leica Q2, um modelo digital compacto com sensor full-frame.
Mais significativamente, a Leica manteve sua exclusividade, seu apelo de luxo e uma lealdade feroz dos clientes, graças à conexão emocional que os fotógrafos sentem ao usar uma Leica — e apenas uma Leica. Cada modelo ainda é montado à mão na Alemanha e construído para durar.
“No início, não havia um designer trabalhando nisso”, diz Daniel. “Eram os engenheiros criando o produto. Mas, olhando para trás, podemos ver o trabalho incrível que fizeram, criando um produto extremamente funcional, que é belo por si só. Não é coincidência que a Q se pareça com a SL, ou a Sofort. Nunca cedemos ao pensamento de ‘Ah, poderíamos adicionar essa ou aquela função’. O conceito sempre foi ‘menos é mais’.”
“Porque, no fim das contas, o foco deve estar no assunto, não na câmera. Isso faz com que suas imagens fiquem muito, muito melhores.”