A Esquire Brasil teve a oportunidade de bater um papo com Christian Knoop, head de design da IWC Schaffhausen, que estava em São Paulo nos últimos dias. Alemão e graduado em Industrial Design pela Universidade de Duisburg‑Essen, Chris já atuou com desenho de diversos produtos, incluindo eletrônicos, móveis e utensílios domésticos
Ele entrou na na IWC Schaffhausen há quatorze anos como Chief Design Officer, e é responsável por design de produto e presença visual da marca.
Confira a conversa abaixo:

Esquire Brasil: Como foi a escolha desta profissão de designer?
Christian Knoop: Sempre gostei de desenhar e construir coisas e, já com uns 12 anos ou algo assim, eu queria ser designer. Eu não conhecia nenhum designer naquela época, mas talvez o meu pai, ele era engenheiro. A minha mãe era professora de arte, então design e engenharia estavam um pouco na nossa família.
Passei muito tempo a esboçar, a criar móveis próprios, a criar tudo, e acho que é… até mesmo moda. É realmente, acho que ser designer não é uma profissão, é uma atitude. É uma maneira de olhar para as coisas. E é isso que eu mais gosto: como designer, você quer envolver-se com as coisas, você quer aplicar as suas próprias ideias, a sua própria visão, e não importa se é construir uma peça de mobiliário, uma peça de roupa ou uma casa. É uma certa sensibilidade visual e há um certo fascínio por mudar as coisas. Mesmo quando corto algumas plantas no meu jardim, ou se cozinho, ou se preparo a mesa, tudo é design. Não consigo desligar essa mente de designer.
E quando percebi que o design é uma profissão adequada, estudei design industrial. Primeiro fiz um estágio como carpinteiro, por isso venho da área de mobiliário. Depois comecei o design industrial. Trabalhei para várias empresas internacionais em design de produto e consultoria de marca, trabalhando para clientes muito diferentes e em produtos diferentes, como design de mobiliário, iluminação, eletrodomésticos, eletrónica de consumo, dispositivos médicos, até mesmo interiores de aeronaves.
Portanto, trabalhei em coisas muito diferentes. E depois, entrei na IWC em 2008 e descobri o mundo dos relógios. Eu não tinha um histórico real em design de relógios antes de vir para a IWC.
E devo admitir que, quando comecei na IWC, olhei para o relógio no início como um produto puramente técnico e pensei: “Ok, já desenhei tantos produtos técnicos, trabalhar com profissionais de marketing, com engenheiros, com produção, será o mesmo nos relógios.” E é, até certo ponto, mas acho que a diferença fundamental é realmente o impacto emocional. Acho que não há outro produto, talvez exceto um carro, que mova as pessoas emocionalmente tão fortemente quanto um relógio.
É uma peça que as pessoas herdam, recebem como presentes, compram durante momentos especiais nas suas vidas, e elas colocam muita emoção. E esse aspeto emocional é uma das partes mais agradáveis da profissão.
Esquire Brasil: Qual foi o primeiro relógio que alguma vez teve?
Christian Knoop: Não me lembro. Recebi o meu primeiro relógio, penso eu, com seis ou sete anos e era um relógio de quartzo, mas não consigo lembrar-me de um único dia em que tenha saído de casa sem um relógio no pulso desde então. Esse primeiro relógio obviamente já não existe, mas toda essa ideia de que uso um relógio todos os dias começou muito cedo. Acho que não conseguiria viver sem um relógio no pulso.
Esquire Brasil: Você tem um relógio desenhado por você que seja seu favorito?
Christian Knoop: Quando as pessoas me perguntam sobre os relógios favoritos que desenhei nos últimos 17 anos com a minha equipa, eu digo sempre que o meu favorito é aquele que será lançado daqui a dois anos. Estou muito focado no futuro da marca. Este é o relógio que agora tem todo o meu foco, a minha atenção, o meu amor, a minha dedicação para que seja um produto bonito.
Eu não sou uma pessoa muito sentimental. Eu não olho para trás. Não sou colecionador. A minha mente está mais no futuro e estou sempre entusiasmado com o próximo, com o próximo relógio, e com coisas que podemos fazer ainda melhor e mais bonitas, mais poderosas, mais variáveis, e por aí. E essa é a mentalidade que tenho como criativo.
Esquire Brasil: Como o design contribui para a construção da identidade de uma marca de alta relojoaria?
Christian Knoop: Acho que o design é essencial para isso. Sabemos, através de pesquisas, que, especialmente na indústria do luxo e na indústria relojoeira, o design é o fator de decisão número um para os nossos clientes comprarem um produto. Ninguém compra um [relógio] para ver as horas. Todos estão fascinados pela marca, pelo estilo, pelo visual, pelo design.
Mas quando olhamos para a história de uma marca como a IWC, que tem mais de 150 anos, ninguém falava de marketing na altura. O produto é o alicerce e o núcleo do que a marca é.

Esquire Brasil: Que elementos de design são mais importantes para tornar um relógio imediatamente reconhecível?
Christian Knoop: Acho que o relógio é um objeto diferente de um carro e de uma cadeira, que são objetos muito tridimensionais. O relógio é muito determinado pela sua face, pelo seu mostrador. Portanto, é realmente o aspeto na parte superior, o estilo e o mostrador do relógio, que precisam de ser característicos e precisam de fazer a diferença.
E acho que hoje isso é ainda mais importante do que nunca. Penso que há tantos relógios a chegar ao mercado todos os dias. A maioria deles é muito bem desenhada. Então, o que faz a diferença entre apenas mais um relógio bonito e um produto de sucesso é a identidade, o caráter. E nesse sentido, dedicamos muito esforço para tornar os nossos produtos reconhecíveis e identificáveis com a IWC.
Esquire Brasil: O que é IWC agregou em sua trajetória?
Christian Knoop: A minha carreira deu uma reviravolta depois que entrei na IWC, mas, por outro lado, também me deu a oportunidade de expressar a minha criatividade em muitos níveis, porque, como disse antes, não estamos apenas a desenhar os relógios, desenhamos tantas outras coisas, e eu realmente gosto disso. E essa era a minha ambição desde o início: ter um espaço criativo para me expressar e trabalhar em diferentes campos estéticos. Portanto, nesse sentido, entrar na IWC foi uma ótima decisão.
Quanto ao meu legado, isso é algo que o tempo terá de provar se esta será uma era na história de 150 anos que será lembrada, ou se produtos específicos serão lembrados. Vamos ver.